Desolado após a eliminação do Flamengo para o Peñarol, Tite concedeu uma longa e tensa coletiva no Campeón Del Siglo. O clima estava tão pesado que até a luz não aguentou e caiu no meio de uma resposta do comandante. As críticas, claro, vieram em profusão.
O principal mesmo foi por conta de uma promessa de Tite. Logo após o jogo de ida, durante a coletiva, o comandante disse que poderia ser cobrado caso o Flamengo não fizesse um gol no Campeón Del Siglo. Deu ruim.
— Vai criar metade das oportunidades que criou hoje e vai fazer gol lá. Me cobra depois — disse, após a derrota no jogo de ida.
Cravou ou projetou?
Esse foi o dilema de Tite. Tentando se esquivar das críticas, o treinador disse que apenas projetou uma melhora do Flamengo no jogo de volta, sem fazer qualquer previsão certeira. Segundo o comandante, ele não tem bola de cristal.
— Imaginava sim, que com a metade das oportunidades, mas não aconteceu. Criou um número grande também. Houve alguns detalhes importantes: a boa performance do goleiro de novo e precisão nossa em alguns momentos de apressar o processo. Mas um volume grande que colocou e talvez a efetividade tenha feito a diferença — explicou.
— Imaginava, sim, que com a metade das oportunidades, mas não aconteceu. Criou um número grande também. Houve alguns detalhes importantes: a boa performance do goleiro de novo e precisão nossa em alguns momentos de apressar o processo. Mas um volume grande que colocou e talvez a efetividade tenha feito a diferença — analisou.
Após a coletiva, ainda houve um bate boca entre Tite e um jornalista da cobertura do Flamengo. Em tom pejorativo, ele cobrou o comandante, que retrucou com a mesma desculpa anterior. O clima, sem dúvida, está tenso para o treinador.
Fica no Flamengo?
Por enquanto sim. A Trivela entende que Tite permanecerá no Flamengo até a semifinal da Copa do Brasil. Se perder para o Corinthians, dificilmente terá continuidade, afinal, já não disputa mais o título brasileiro. Está a 11 pontos do líder Botafogo.
— Persistência e trabalho. Sem promessa. Promessa é de dar o melhor, de dignificar independentemente do resultado, o papel de estar técnico do Flamengo. A dignidade de um profissional não se mede por resultado. Então persiste, busca situação que seja melhor para dar ao torcedor alegria também. Nós queremos dessa forma — finalizou.
Mesmo que ainda tenha chances de conquistar um título importante, Tite já decepcionou a torcida do Flamengo. Considerando as expectativas com a chegada de 2024, a equipe involuiu e se mostrou previsível e burocrática. Claro que as lesões prejudicaram, mas não podem ser muleta para as péssimas atuações.
Nesta quinta-feira (26), mesmo com o Flamengo precisando de um gol, sobrou preciosismo. Na hora de chutar para o gol, preferiam o passe. É a sina dos rubro-negros, que caminham para um fim de ano melancólico.
Veja outros assuntos da coletiva
Trabalho na Libertadores foi ruim?
— Não tenho condição de falar agora, é um contexto muito grande. Eu não tenho essa capacidade de análise. O que eu tenho pra te falar é que faltou precisão nesses momentos de definição, para transformar um maior número de oportunidades em gol. Isso que eu tenho em relação a esses dois jogos. Já em uma análise mais ampla, a gente perdeu quase 60 gols no ano, em uma equipe que estava estruturada para jogar em volta do 9, do Pedro, um jogador de infiltração, de área, de bola aérea, de quando as equipes se postam lá atrás.
Gabigol entrou mal?
— Qualquer que seja a observação, não coloca o Gabi é porque não colocou o Gabi. Coloca o Gabi, é porque colocou o Gabi. Depois que terminou o jogo é muito fácil falar. O que tínhamos era opção de jogadores com movimentação sincronizada com o BH por vezes por dentro, por vezes por fora. Aí tem um jogador de área também para chegar, como foi o lance, também é importante. Aí todas as observações sem fazer gol vão ter razão, diferente da que aconteceu porque nós não fizemos o gol.
Lesões minaram a campanha na Libertadores?
— Temos que olhar um contexto muito amplo. Houve momentos: a gente chegou para conseguir se classificar para a Libertadores de forma direta, e nós conseguimos. Ser campeão carioca, nós conseguimos. Disputar as três competições, porque o Flamengo tem essa necessidade. Aí, tivemos uma série de jogadores convocados para a Seleção, teve o Brasileiro… Esse é o primeiro “não” dos objetivos. O mais importante dos objetivos, eu concordo (Libertadores).
— Mas também teve em cima de um calendário com uma série de dificuldades que nós tivemos. A maior delas, volto a dizer, pela moldagem da equipe, foi o Pedro: o jogador de área, da infiltração, com as características dele, não estou falando em demérito aos demais. A estrutura ofensiva se perdeu um pouco, a gente tentou com o BH, o retorno do Gabi, Carlinhos… No produto final, ela (equipe) não fez o que deveria ter feito.
Por que colocar David Luiz e não Carlinhos?
— Quando nós o colocamos, ele deu uma saída de bola e já era programado que nos minutos finais ele poderia (ir para o ataque) porque tem uma qualidade de cabeceio muito grande, tanto de bola parada quanto de bola andando. O momento do Carlinhos não é bom, então para esse momento decisivo, esses 10, 15 minutos que tivesse um jogador de área, inclusive de bola parada. Que tivesse com o Gabi em movimentação, os dois enfiados para que pudesse ter esse jogador de bola aérea.
Faltou repertório?
— Quando se tem três jogadores importantes, faltou uma efetividade maior. Talvez tenha faltado um repertório. E talvez tempo maior para que se pudesse coordenar movimentos do Plata. Organizar movimentos, sim. Porque nós perdemos três jogadores titulares (Pedro, Cebolinha e Luiz Araújo) que se deram 60 gols no ano. Para mim, a característica do Pedro foi a mais importante para poder circular em volta dele. Tanto com infiltrações quanto com bolas de fundo e jogada de combinações que ele tem.
Faltou um centroavante?
— A direção trouxe todos e tudo que foi possível e que foi prometido. Tudo. O que aconteceu é que houve acidentes, do tamanho de quatro jogadores… O bom senso. Olha o que a gente perdeu: Pedro, o goleador da equipe; Cebolinha no melhor momento da carreira dele; Luiz (Araújo) da mesma forma; Viña que vinha também trabalhando… Mas esses três homens-gol… E tempo, porque aí fomos atrás de buscar o mais rápido possível. Michael…
— Teve acidentes de percurso, e buscaram, mas não deu tempo de entrosar. Talvez se tivesse uma efetividade maior hoje pudesse acontecer. Talvez um repertório mais, talvez. Talvez as substituições que poderiam ser feitas por vocês e não por mim. Talvez. Se faz o gol no último lance que o goleiro faz a defesa, daqui a pouco a coisa se transforma. Futebol tem isso. Mas criou, botou volume. Faltou um gol.